fevereiro 12, 2010

MORRO DE SÃO PAULO ESTÁ MORRENDO...

Artigo do escritor baiano renomado, integrante da Academia Brasileira, de Letras, João Ubaldo Ribeiro, publicado no jornal A Tarde, edições de 21 e 22 de janeiro deste ano, com muita procedência faz severas críticas à construção da Ponte Salvador-Itaparica.

No seu artigo João Ubaldo alerta para as “desastrosas conseqüências que estão gerando os modernos condomínios e shoppings, na Ilha de Itaparica, transformando as cidades acuadas pela violência criminosa que se alastra. Ele aponta que esse progresso é na verdade uma face de nosso atraso. Atraso que transmutará Itaparica num ponto de autopista, entre resorts, campos de golfe e condomínios de veranistas, uma patética Miami de pobre. E que, em lugar de valorizar o nosso turismo, padroniza-o e esteriliza-o, matando ao mesmo tempo, por economicamente inviável, toda a riqueza de nossa cultura e nossa história”.

Compartilhamos com a preocupação do nobre escritor baiano, e registramos situação idêntica, ou pior, vivida pela população de Morro de São Paulo. E o que é pior: com a conivência do IMA (Instituto do Meio Ambiente), do IBAMA, do governo municipal e participação ativa do governo estadual.

Cairu é APA Estadual e já tem projeto em projeto em Brasília requerendo sua transformação em APA Federal. Veja as imagens do antes e do depois das obras e reflita: quando chover, como serão absorvidas as águas? Estranhamos que o governo estadual tenha participado das comemorações dos 400 anos de Cairu inaugurando obras que certamente vão resultar em calamidades ambientais e sociais. Será que esqueceram que Morro está inserido numa APA? Será que desconhecem o que é uma APA? Será que estão fazendo brincadeira de mal gosto com o povo e a natureza? Será rasgaram o decreto aprovado em 1992? Será que não pensam no crescimento do número de desocupados com a urbanização da via principal? Será que não ligam que as obras propagadas nos quatro cantos do arquipélago seja utilizado o mortal amianto (produto cancerígeno que ataca o pulmão) sem ao menos fornecerem os materiais de segurança aos trabalhadores? 

Com as obras, cujo investimento é da ordem de R$ 3,2 milhões e que chamam de requalificação urbana, os governantes só pensam na concorrência do turismo, ou seja, em primeiro lugar está o dinheiro entrando.

Usam esse marketing do turismo para obter projeção política sempre visando a manutenção do poder. Podem até ter consciência das possíveis tragédias do futuro, mas certamente também aproveitarão para se promoverem no cenário nacional, para galgar mais degraus na efêmera política.

As avaliações deles são recheadas de bestialidade. Dizem que com as obras pretendem minimizar (?) os impactos decorrentes da atual e crescente ocupação turística e da falta de ordenamento espacial ao longo das últimas décadas. E que isso beneficiará cerca de cinco mil habitantes de Morro. Porque não falam que a grande maioria dos nativos que ainda resta no Morro protestou contra as obras através de abaixo assinado e ação no Ministério Público requerendo embargo? 

Como podem eles falar em desenvolvimento se estão causando assoreamento, derrubando e queimando e agredindo as paisagens naturais? Querem transformar Morro de São Paulo numa metrópole?

Dizer que estas obras vão gerar empregos e que ninguém terá que ir embora para sobreviver é conversa prá boi dormir! Basta ver onde estão os poucos nativos do Morro: no Zimbo, no Buraco do Cachorro, nas favelas.

Quem é capaz de enxergar além da montanha, certamente pode ver que as obras de urbanização da principal via de acesso da ilha, que abrange a Fonte Grande, a Rua da Biquinha e a Praça Central vai agravar o assoreamento e retirar empregos, afinal com a urbanização de grandes trechos da ilha, com diversas estradas sendo pavimentadas, resultará em favorecendo as enchentes e retirando o emprego de centenas de pessoas que realizam transporte de mercadorias. Ou seja, o “modelo” da atual administração das ilhas está fomentando graves problemas sociais com a iminente e concreta eliminação de empregos, dessa forma, aumentando a pobreza e  crescimento desordenado. 

Mesmo sendo uma das mais velhas cidades do país, Cairu não dispõe de saneamento básico, nem aterro sanitário o que, aliás, favorece o aparecimento de estranhas doenças, provavelmente em virtude da presença de lixões a céu aberto, que certamente com um dos seus mais perigosos componentes que é o chorume, compromete a potabilidade da água fornecida pela Embasa e consumida pelos habitantes e visitantes.

Não é demais lembrar que o município, apesar de ser detentor de uma fantástica arrecadação de tributos (some-se a isso às fabulosas quantias em royalties oriundos da exploração de petróleo na região) cresce acelerada e desordenadamente ensejando  a proliferação de favelas e mini lixões nos bairros próximos do centro das ilhas, que sequer dispõe de acesso para a realização da coleta de lixo pelo trator. E assim muita gente queima o lixo para evitar pragas e doenças o que, por outro lado, alimenta o efeito estufa com a emissão de grande quantidade de gases na atmosfera, agravando o aquecimento global, em outras palavras: contribuindo para a destruição do planeta. 

Com todo esse quadro de caos podemos afirmam que o município de Cairu está totalmente órfão de ações das autoridades competentes para frear esse estado de terra arrasada. Sem medidas de saneamento, a proliferação de favelas, a agressão ao meio ambiente, no crescimento da violência, das doenças e da pobreza, Cairu está longe de ser um lugar bom para se viver, conforme a administração alardeia e o turismo entrará numa era de declínio, aliás, como já está acontecendo. E é preciso registrar que as grandes pousadas, os conjuntos de apartamentos devorarão as pousadas menores e mais simples, cujas diárias comportam no bolso dos visitantes.

E falando em pousadas não poderia deixar de registrar a existência das luxuosas e sofisticadíssimas pousadas localizadas em Morro de São Paulo que transportam turistas em cerca de 50 carros, inclusive ônibus, na segunda praia. (“Sorte não é pra quem quer, sorte só pra quem deus dá”)

Diariamente temos denunciado essas aberrações ao Ministério Público, e acaso não tenhamos um desfecho satisfatório acionaremos os órgãos competentes para exigir daquela instituição o cumprimento das leis e do seu papel. 

POR QUE TINHARÉ / BOIPEBA É APA?

A atual administração municipal propaga, através da mídia, que é a melhor de todos os tempos, que é MODELO! Perguntamos: modelo de que, dando tantos maus exemplos?! Para nós, entre outras coisas é Modelo Desastroso!
A população precisa parar e refletir profundamente sobre estas obras e reagir imediatamente, uma vez que com a construção de estradas até nas praia haverá veículo e as conseqüências para o meio ambiente serão incomensuráveis, Sem aludir aqui outras conseqüências, como exemplo: a cultura local, a identidade da população, a poluição do ar, do solo (com a necessidade o aumento do consumo de combustível), etc. As ilhas perderão (e já estão perdendo) o que existe de melhor, a identidade de seu povo. 

A quem o secretário do Planejamento, quer enganar quando diz que “o turismo é um importante vetor para o desenvolvimento da economia local e que com ações como essa tende a crescer ainda mais nos próximos anos. Não apenas os turistas brasileiros preferem a Bahia como destino, mas também os europeus”. Que ele fique sabendo que pesquisa de pessoas que moram no Morro há décadas apontam que do ano 2000 até agora os europeus revelam que não pretendem mais voltar, pois aos poucos estão se decepcionando com a atual Morro de São Paulo, e não voltarão para ver os desastres que se avizinham. 

Além do que, como alguém em plena sanidade mental pode falar em desenvolvimento econômico se o próprio não olhou para o desenvolvimento primordial, o ser humano. Como falar em turismo se a população das ilhas não possui saneamento básico? No mínimo as declarações são antagônicas.

Acompanhamos os acontecimentos que fizeram parte das comemorações dos 400 anos de Cairu e tivemos a infelicidade de ver o governador do estado afirmar que “continuará investindo nesse segmento, porque o turismo é a indústria sem chaminé, que une culturas, sociabiliza diferenças, gera emprego, renda e qualificação de mão de obra”. Porque não fez uma avaliação do impacto ambiental, cultural e social senhor governador? Pensa vossa excelência que o povão não enxerga? Que não saberão dar a respostas para tantas ações nefastas? 

Miss Maria Perchè

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