outubro 15, 2010

PRECARIEDADE NO SETOR DE SAÚDE DE CAIRU

O Bahia Notícia, com muita propriedade, denuncia à prefeitura de Cairu, no sul do estado, o sofrimento enfrentado pelos moradores com a ausência completa de infraestutura de saúde. A denúncia aponta que a cidade abriga um arquipélago de 26 ilhas, mas os moradores só conseguem atendimento na cidade vizinha Valença, cujo Hospital Heitor Guedes de Mello é o único da região do baixo sul que atende a 23 municípios e uma população de mais de 500 mil habitantes. Indo mais além, é denunciada a longa distância dos distritos para remoção de pessoas, como é o caso de São Sebastião, em que os moradores levam até cinco horas de travessia de barco para chegar a Valença.
Em vão, a administração municipal emitiu comunicado oficial para rebater as informações divulgadas pelo Bahia Notícias. Segundo a nota, “Cairu não sofre com falência do sistema de saúde porque desenvolve ações na área e também faz parte da Gestão Básica Ampliada do Sistema de Saúde, instituída pelo Ministério da Saúde, o que justificaria, segundo o poder municipal, a ausência de um hospital na cidade. Os pacientes mais complexos são enviados a Valença, Santo Antônio de Jesus e Salvador via Programação Pactuada Integrada (PPI). Em Valença há também um convênio com a Santa Casa de Misericórdia que possibilita atendimentos, uma vez que as viagens que a população faz ao município vizinho não acontecem devido à desatenção do poder público. Em Cairu há também dez postos de saúde, sendo quatro PFS (Postos de Saúde da Família) e seis (PS) Postos de Saúde. Os dados oficiais indicam que, por lá, o percentual da população abrangido pelo atendimento dos PSFs chega a 95,58%”.
Corroboramos as denúncias do Bahia Notícias e cabe-nos aqui citar que há muito tempo são trazidos para Salvador pacientes para os mais variados procedimentos de saúde, tais como, endoscopia, colonoscopia,  consultas com otorrino e oftalmologista, RX de coluna cervical  e 

Hospital de Valença
lombar, mamografia, ultra-sonografia mamária, transvaginal e de abdômen total, contaminação por bactérias etc. Há muitos pacientes que não confiam nos serviços oferecidos pela Santa Casa de Misericórdia (Hospital Heitor Guedes de Mello), e, mesmo comprometendo seu orçamento, preferem arcar com despesas de consultas e exames particulares, sobretudo pelo fato dos PSFs e do referido hospital não terem recursos para realizar diagnósticos seguros, correndo o risco de indicarem tratamentos paliativos ou totalmente errôneos.

DEFICIÊNCIA DOS POSTOS DE SAÚDE


Paciente é removido para Salvador pelo Ferry Boat
Também não poderíamos deixar de registrar a precariedade e despreparo de alguns profissionais de saúde da região, seja de PSF (Postos de Saúde da Família) ou (PS) Postos de Saúde. Muitos revelam não possuírem treinamento sequer para instalação de balão de oxigênio e realização de simples curativos, levando, em alguns casos, à necrose de ferimentos e amputação de membros de pacientes, fatos que já motivaram fiscalização por parte do COREN (Conselho Regional de Enfermagem) a pedido do Jornal O Pescador. Lembramos que, recentemente, uma paciente quase teve a mama amputada em função de câncer, sendo que as fortes dores sofridas foram diagnosticadas como doenças comum da idade (artrose e coluna). O mais grave é que até pouco tempo, profissionais de PSFs cometeram diversas omissões de atendimento de emergência alegando estarem fora do horário de trabalho, a exemplo de Boipeba. Sem falar que muitos pacientes são transladados pela ambulancha para Cairu ou Valença, mas o veículo não os leva de volta aos seus locais de moradia.
Constatamos, ainda, que alguns pacientes que recorrem a Postos de Saúde da Família da região, mesmo apresentando intenso sofrimento físico são recepcionados com descaso e sem alternativa migram para postos de ilhas vizinhas, por falta de atendimento, seja por ausência de médicos, seja pela existência de equipamentos quebrados.
Alguns bairros novos, a exemplo do Capara, em Boipeba, cuja população, na sua maioria, é formada por pessoas humildes, não figura no roteiro de visitas in loco, nem mesmo para combate ao mosquito da dengue. Além disso, neste bairro a coleta de lixo não é realizada, obrigando os moradores a queimarem resíduos, emitindo, dessa forma, gases na atmosfera e, por conseguinte, involuntariamente, agravando o efeito estufa e o aquecimento global.
Fazem grande alarde do PSF de Boipeba. Entretanto, atualmente, na Tiririca, existe um idoso com uma grande e purulenta ferida, consequente de um pau que traspassou seu tornozelo, necessitando de assistência médica. Apesar de não ser portador de diabetes, a ferida existe há dois anos e nunca cicatrizou, provavelmente por insuficiência vascular, inclusive na região do ferimento, além de edema predomina numerosas e volumosas varizes que, se não forem devidamente tratadas, possivelmente podem causar trombose seguida de amputação do membro.
ATAQUES DE ANIMAIS PEÇONHENTOS CAUSAM ÓBITOS
Já o portal do baixo sul, aponta que dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) indicam que até maio de 2010 3.772 pessoas tiveram algum tipo de acidente com animais peçonhentos no Estado, com 13 óbitos, sendo que 22 casos em Valença, dos quais 21 foram por serpentes.
JORNAL O PESCADOR LUTA E CONSEGUE IMPANTAÇÃO DO
BANCO DE SOROS ANTEPEÇONHENTOS EM CAIRU
Mesmo com o fato do município ter sido fundado há quatro décadas, o Banco de Soros de Cairu só foi implantado em 2007, graças à solicitação do Jornal O Pescador*, com o apoio do CIAVE (Centro de Informações Anti-Veneno do Estado da Bahia) e da 5ª DIRES.
Infelizmente, infringindo a determinação do CIAVE e da 5ª DIRES, a prefeitura municipal não mantém a instituição funcionando com atendimento médico 24 horas todos os dias da semana; geladeira para acondicionamento dos soros que deverão permanecer sob refrigeração constante na temperatura entre 2 e 8ºc; e profissional designado para o controle dos soros e notificação compulsória dos acidentes quando ocorrem. Em consequência deste descaso, pessoas atacadas por animais peçonhentos são levadas para Valença e ficam à espera da chegada (?) do produto oriundo de Cairu. Quando acontece não ter soro em quantidade para atender a demanda dos pacientes, os mesmos são transportados para Santo Antônio de Jesus. Outros vão a óbito em função da demora, a exemplo de uma turista que faleceu no ano passado por não ter tomado o soro precocemente. Também pudera, pois em alguns casos a ambulancha não funcionou, certamente por falta de manutenção preventiva.
Não temos dúvida que a maioria dos óbitos tem como causa a morosidade de atendimento. Outro fato que afirmamos com convicção é que, apesar das ocorrências serem de notificação compulsória ao CIAVE e SESAB, não há controle sobre isso e, portanto os números divulgados dificilmente podem corresponder à realidade.
Visando sanar tal irregularidade novamente vamos fazer contato com a 5ª DIRES que é responsável pela distribuição dos soros anti-peçonhentos nessa região. Além dessa medida, vamos repetir a denúncia ao CIAVE.

Elisete Souza
Diretora do SINDIPESCOIDE (Sindicato dos Trabalhadores Armadores, Profissionais e Artesanais do ramo da pesca de crustáceos, moluscos, psicultura e carcinicultura em águas doces e salgadas da região da costa do dendê
Conselheira do Jornal O PESCADOR
Sócia da AMABO- Associação dos Moradores e Amigos de Boipeba
Diretora da ONG Cairu Livre- Fundação Ambientalista, de Fomento da Cidadania e Assistência Social de Cairu


* possuímos documentos comprobatórios em arquivo à disposição da comunidade




























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